Tempo de crise é tempo de se reinventar - 25/08/2020
Por mais que possamos adiantar algumas tendências para o mercado no cenário pós pandemia, é prematura e arriscada a ideia de querer fixar padrões e comportamentos para as pessoas, os clientes e os negócios. Mas, uma coisa é certa: assim que as rotinas normalizarem e as empresas retomarem suas atividades, será fundamental ter clareza de que precisaremos voltar diferentes. Nosso olhar, assim como nossas relações, prioridades, trabalho e o modelo para a sustentabilidade de negócios, estarão em cheque.
As últimas semanas nos mostraram tendências presentes há algum tempo. Aquilo que impactaria o comportamento do consumidor, e por consequência o modelo de negócio das empresas nos próximos anos, foi acelerado e implementado em um curto espaço de tempo. Assim, em maior ou menor grau, as corporações precisam inovar e se reinventar, encontrando um posicionamento em meio a um mercado cada dia mais volátil e complexo.
Não sendo um fim, mas o início de momento de aceleradas transformações e potenciais oportunidades. Independente do segmento, porte ou tempo de atuação das empresas, alguns pontos podem ser altamente relevantes quando revisitados à luz de uma nova dinâmica de mercado. Destaco alguns a seguir.
Necessidade de tomar de decisões com base em informações
Não é mais possível desenhar planejamentos com visões de 3, 5 ou 10 anos. A tônica é o estabelecimento de visões de curto prazo, dentro de um ano, com avaliações em períodos ainda mais curtos, tendo na informação o maior orientador sobre a evolução ou necessidade de ajustes na rota. Não há mais espaço para achismos ou avaliações baseadas somente em fatos históricos. Cada ano que passa temos mais dificuldade em comparar desempenhos históricos, justamente em função de variações do ambiente externo.
Chegou a hora de entendermos o que é propósito
Os últimos anos trouxeram mudanças na forma de expressar os elementos da identidade de um negócio. Exemplo disso é a expressão propósito, que equivocadamente substitui a missão de um negócio, ganhando um protagonismo quase gourmet nas conversas empresariais. Agora se faz necessário compreender o papel da missão e do propósito. A primeira passa a ser mais adaptável e mutável, a partir do reconhecimento de mudanças no comportamento do consumidor, é correto que a empresa faça ajuste em sua proposta de valor. O segundo é o DNA e deve carregar a essência da empresa, que vai muito além da geração de resultado e de lucro, enquanto a missão deixa claro o que a empresa faz e para quem faz.
Cultura compartilhada
As empresas cada dia ficam mais parecidas umas com as outras, desde os produtos, serviços até o pacote de atrativos que dispõem para captar e reter talentos, mas com o passar do tempo, fica evidente que é a cultura do negócio que fará com que pessoas se comprometam e queiram “vestir a camisa”. A cultura determina o jeito de pensar e agir manifesta em todos os elementos que fazem o cotidiano do negócio. Empresas com cultura de colaboração, valorização das pessoas, com comunicação franca e estruturas menos hierarquizadas ganham espaço não só por terem melhor ambiente de trabalho, mas por oferecerem um cenário para geração de resultados e para o desenvolvimento das pessoas.
Adaptabilidade e agilidade
O Darwinismo está de volta! E não será o tamanho ou tradição que dirá quem segue no mercado e quem fará parte de estatísticas de fechamento de negócios, mas sim, a capacidade de ler cenários, interpretá-los e rapidamente propor transformações de processos, de modelos de negócio e por que não até o foco principal da empresa. Para dar sustentação a isso, a cultura de flexibilidade e da inovação devem ser cultivadas com muita atenção.
Menos pode ser mais
Em um mercado com tantos nichos, fica mais complexo tentar atender “todo mundo”. O excesso de oportunidades e a crença de que diversificar é garantia de melhor risco, tem colocado empreendedores e gestores numa busca constante por “algo que falta”, quando na maioria das vezes, a escolha de um foco pode ser a saída para garantir um lugar de protagonismo em mercados altamente competitivos. A definição do público alvo é um passo importante para a criação do posicionamento de mercado, e a partir dele, delimitar atuação, compor e organizar mix de produtos e serviços, organizar canais e as estratégias de comunicação e de venda.
Liderança antes da gestão
A gestão empresarial nasceu com a finalidade de organizar internamente cenários que eram pouco impactados por fatores externos. Com mudanças rápidas e dias incertos, temos pouca coisa a gerenciar, mas muitas decisões a tomar. Aí faz todo sentido que a figura do líder seja o grande catalisador e intérprete das mudanças do contexto, estimulando as pessoas dentro da empresa a repensarem absolutamente tudo. A liderança passa a ter um papel ainda mais relevante quando assume a responsabilidade de ser um mentor mais comportamental do que técnico, equilibrando estados emocionais e oferecendo um ambiente seguro e ao mesmo tempo desafiador para que as pessoas cresçam especialmente nos momentos de crise.
Mais do que resiliência, plasticidade
O conceito de aguentar firme e suportar os impactos de uma crise até que tudo passe, pode nos colocar em situação de espera e expectativa que tudo volte ao normal, o que nos deixa vulneráveis. Já é certo que um novo normal vem aí, exigindo organizações e pessoas com plasticidade, seja na capacidade de aprender e aplicar coisas novas e mesmo conviver com cenários incertos, que daqui pra frente, vez ou outra obrigarão novas paradas e reinvenções, independente do motivo.
Em resumo, é necessário fazer a reflexão de que a maior crise que uma empresa ou profissional pode passar não é de caráter econômico ou proveniente de um fato externo e de alto impacto como a Covid-19, mas sim, quando não reconhecemos as mudanças no cenário e ficamos presos às práticas que já geraram resultado em outros momentos. A crise é de resistência à mudança e só a combatemos com lideranças atentas e sensíveis, sem medo de inovar e construir novos caminhos.
Fonte: RH Portal